sexta-feira, abril 04, 2014

Juvenal Juvêncio - Itaquera sim, Itaquerado não!

Esperei acalmar os ânimos, os pensamentos se consolidarem para analisar a declaração do presidente do São Paulo Juvenal Juvêncio sobre a zona leste da capital paulista.
Para defender o estádio do Morumbi na abertura da Copa do Mundo de 2014, o alcaide são-paulino desqualificou o vulgo "Itaquerão? e o "Piritubão?, mostrando implicitamente o que pensa sobre as pessoas que moram em outras regiões da principal cidade do país.
O conceito "Juvenalniano? lembrou-me um poema do grande brasileiro, o poeta Patativa do Assaré : Nordestino sim, Nordestinado não! (verso completo no final da coluna)
Nestes versos, o artista cearense conta que apesar das dificuldades, os homens do norte do país não estavam predestinados ao sofrimento por causa de uma providência divina.  Assaré na sua epopéia, explicava que o seu povo era injustiçado, tratados com indiferença governamental e nunca "Nordestinados? por Deus.
A fala de Juvenal replica no descaso com a população menos abastada da principal cidade do país, com a mesma intolerância que os preconceituosos analisavam o Nordeste de Assaré.
 Estas declarações do mandatário tricolor criou uma linha muito tênue com as citações repudiantes pós-eleição para a Presidência da República implicando no ódio aos nordestinos.
O conceito da liderança máxima da equipe do Morumbi foi infeliz.
Realmente a zona oeste onde está localizado o estádio Cícero Pompeu de Toledo  é mais estruturado, recebeu mais atenção dos governantes, há hospitais excelentes, inúmeras estações do metrô, ônibus em magníficas condições e  ruas bem asfaltadas.
Já na zona leste 1, cujo nascerá o projeto da arena corintiana, existem muitos problemas de infraestrutura. Não há boas casas de saúde, o sistema de transporte público é lastimável e as muitas vias nem asfalto tem.
Mas o interessante, meu caro Juvenal, caso permita a me referir a vossa estupenda figura, é a comparação do total da renda per capita nas duas regiões.
A população da zona oeste tem uma renda per capita de R$ 2.174,55, para um total de 888.623 moradores. Em compensação a zona leste 1, a renda per capita é de R$ 875,90 para uma população de 1.522.070.
Triste sina que é a distribuição de renda em nosso país. Nem na metrópole mais rica essa discrepância é menor.
Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, especificamente do censo de 2000. O notório é que multiplicando estes dados é que a região do Morumbi tem um total de riquezas acumuladas entre seus moradores de R$ 1.923.355.144, 65, realmente significativo.
Enquanto a área onde ficará o provável "Itaquerão? resume em R$1.359.458.113,00.
A diferença entre as duas regiões é de 30% em suas riquezas. Vamos pensar que a União fosse administrar um país, um Estado ou um município, na seguinte máxima: olho por olho, dente por dente (aliás é que muitas pessoas tristemente pregam).
E agora, eu pergunto a Juvenal Juvêncio e a você, caro internauta: há diferença nestas regiões em infraestrutura, educação, transporte público, saúde, saneamento básico de apenas 30%?
Todos sabem que não. E a diretoria do São Paulo quer justificar seus erros de arrogância, prepotência e inaptidão política com suas teses recheadas de conceitos equivocados para um país como o Brasil.
Não podemos discriminar as pessoas por não terem dinheiro ou por não terem tido chances de progredir. Os mais "endinheirados? apenas souberam fazer o melhor das oportunidades que apareceram os seus caminhos, já ensinava Clarice Lispector.
E por isso tentam justificar em outras esferas os erros políticos de Juvenal Juvêncio, com os clubes paulistanos.
 A falta de habilidade para conduzir as cotas dos torcedores no Morumbi, com o Corinthians, de Andrés Sanchez, na casa tricolor,  virou um revés político.
As intrigas constituídas contra o Palmeiras, os tricampeões mundiais não quiseram jogar contra o Verdão no Parque Antarctica e posteriormente tiraram a então revelação Ilsinho do arquirival.
Sem citar, o tiro no pé que Marco Aurélio Cunha, vereador e superintendente de futebol do São Paulo, deu ao  liderar na câmara municipal o veto para o arrendamento do estádio do Pacaembu para o Timão.
Este movimento fez a equipe do Parque São Jorge se mexer para a construção da nova arena, que até este momento, será a sede da Copa do Mundo em Sampa, preterindo o Cícero Pompeu de Toledo.
Não bastasse a inimizade com os clubes paulistanos, Juvenal fez da sua prepotência , soberba, outro preconceito, o bairrismo,  ao afirmar que não existiria Copa sem a cidade de São Paulo.
Seria injusto e ingrato com a megalópole urbana que é São Paulo. Mas teríamos o Mundial do mesmo jeito, em outras cidades no Brasil e provavelmente com muito sucesso.
Portanto Juvenal Juvêncio e diretoria são-paulina vocês não foram vítimas da "politicagem? e sim colheram os frutos da inabilidade política, da arrogância, do preconceito e por último de uma estratagema sem nexo.
E Juvenal, por favor,  não predestine os Itaquerenses ao fardo do sofrimento, do esquecimento político e dos equívocos governamentais eternos.
Plagiando, sem a pretensão da genialidade do poeta cearense Patativa do Assaré: ITAQUERA SIM, ITAQUERADO NÃO!
Nordestino sim, Nordestinado não ? Patativa do Assaré
Nunca diga nordestino
Que Deus lhe deu um destino
Causador do padecer
Nunca diga que é o pecado
Que lhe deixa fracassado
Sem condições de viver
Não guarde no pensamento
Que estamos no sofrimento
É pagando o que devemos
A Providência Divina
Não nos deu a triste sina
De sofrer o que sofremos
Deus o autor da criação
Nos dotou com a razão
Bem livres de preconceitos
Mas os ingratos da terra
Com opressão e com guerra
Negam os nossos direitos
Não é Deus quem nos castiga
Nem é a seca que obriga
Sofrermos dura sentença
Não somos nordestinados
Nós somos injustiçados
Tratados com indiferença
Sofremos em nossa vida
Uma batalha renhida
Do irmão contra o irmão
Nós somos injustiçados
Nordestinos explorados
Mas nordestinados não
Há muita gente que chora
Vagando de estrada afora
Sem terra, sem lar, sem pão
Crianças esfarrapadas
Famintas, escaveiradas
Morrendo de inanição
Sofre o neto, o filho e o pai
Para onde o pobre vai
Sempre encontra o mesmo mal
Esta miséria campeia
Desde a cidade à aldeia
Do Sertão à capital
Aqueles pobres mendigos
Vão à procura de abrigos
Cheios de necessidade
Nesta miséria tamanha
Se acabam na terra estranha
Sofrendo fome e saudade
Mas não é o Pai Celeste
Que faz sair do Nordeste
Legiões de retirantes
Os grandes martírios seus
Não é permissão de Deus
É culpa dos governantes
Já sabemos muito bem
De onde nasce e de onde vem
A raiz do grande mal
Vem da situação crítica
Desigualdade política
Econômica e social
Somente a fraternidade
Nos traz a felicidade
Precisamos dar as mãos
Para que vaidade e orgulho
Guerra, questão e barulho
Dos irmãos contra os irmãos
Jesus Cristo, o Salvador
Pregou a paz e o amor
Na santa doutrina sua
O direito do bangueiro
É o direito do trapeiro
Que apanha os trapos na rua
Uma vez que o conformismo
Faz crescer o egoísmo
E a injustiça aumentar
Em favor do bem comum
É dever de cada um
Pelos direitos lutar
Por isso vamos lutar
Nós vamos reivindicar
O direito e a liberdade
Procurando em cada irmão
Justiça, paz e união
Amor e fraternidade
Somente o amor é capaz
E dentro de um país faz
Um só povo bem unido
Um povo que gozará
Porque assim já não há
Opressor nem oprimido

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