domingo, junho 19, 2016

Um sorriso pontual ao meu pai e tio que me "ensinaram" Chico Buarque de Holanda!




Não há dinheiros, agradecimentos e pagamentos a meu pai e ao meu tio por ouvirem Chico Buarque de Holanda quando este marmanjo era um moleque. Neste domingo, 19 de junho de 2016, o cantor, escritor e compositor comemora 72 anos. 

"O meu mundo não era um apartamento", mas era a rua não asfaltada, o futebol da democracia corintiana, um contato muito próximo com tios e avós. Discussões políticas na família eram tão comuns e quase todos com posições  mutantes e divergentes no almoço de domingo amiúde, com 19 pessoas, humilde na variedade de pratos, mas abundante na quantidade. 

O tempo passou e todos nós 'levamos pedras como penitentes', o país mudou, mas há pessoas que continuam com os resquícios da ditadura. Um patrimônio cultural como Chico Buarque de Holanda tem que ser reverenciado sempre. Sorte de um país que pode contar com ele, disse Jô Soares.

Privilégio tive eu, em ter um pai (Nilton) e tio (João Carlos) que ouviam e cantavam (mal) Chico a todo instante. Aquelas passagens da vida que não damos a mínima quando estamos vivendo, mas ficam enclausuradas em nossas mentes  cada segundo, todos os odores, as cores ficam mais fortes na sua "moringa"e saudosa para todo e sempre. 

Um fusquinha, daqueles com motores poderosos, o primeiro 1.300 e o segundo 1.500, eram lavados todos os sábados, em épocas distintas, em um lava-rápido na praça Silvio Romero, na capital paulista, quando era possível pagar uma lavagem. 

No caminho meu pai cantarolava "Cotidiano"- 'Todo dia era sempre igual...' e fazia eu e a minha irmã  repetir os estrofes na mesma entonação. Era ridículo, mas como é maravilhoso hoje. Enquanto o 'possante' era lavado, jogávamos algumas fichas de fliperama e três refrigerantes depois - um para cada -  a volta para casa e o encontro com à minha mãe com almoço pronto. 

Após à sesta, meu pai assistia o filme da tarde e no início da noite pegava o seu long play -LP- e ouvia duas vezes 'Construção' e depois as outras músicas. Ainda hoje, nunca ouço uma única vez e continuo repetindo cada estrofe como ele fazia e deve fazer até hoje - Amou daquela vez como se fosse a últimaaa-. 


Meu outro "Chico" era o meu tio. Ele tinha alguns 'bolachões', mas nunca o vi escutando, mas sempre lendo as letras e elogiando a genialidade do Buarque de Holanda. Um dia durante a semana fui à casa da minha avó, precisava inventar um lanche para escola municipal Dr.João Naoki Sumita. Ele estava trabalhando e eu fui ao seu quarto e ouvi pela primeira vez o LP 'Vida', enquanto a minha vó preparava um sanduíche de patê de sardinha que faz sucesso até hoje. 

"Vida, minha vida, olha o que é que eu fiz ", este refrão me persegue até hoje. Faço essa pergunta a mim todos os dias, desde da primeira vez que eu comi a merenda de 'sardinha' graças ao "bolachão" do titio 'Cabeção'.  

Em outro disco havia a canção "Pelas Tabelas". Eu posso  escutar essa música em qualquer lugar, : velório, enterro, missa, batizado, reunião de trabalho, dobro os joelhos e balanço os braços para frente e para trás e rogo "Ando com a minha cabeça já pelas tabelas, claro que ninguém se toca com a minha aflição".

Meu pai e meu tio me deram a oportunidade de aprender com Chico. Nos lps eu aprendi sobre política, a falar de amor, a decidir a profissão que escolhi exercer, da inquietude que causa a minha aflição até hoje. E eu ainda acredito e luto para que um 'bocado de gente descendo as favelas para pedir a cabeça dos homens que olham para as favelas, será que a minha cabeça faça as pazes assim?' como o septuagenário pedia. 

Ao optar por exercer o jornalismo, sempre lembro do verso de "Bom Conselho" - Ouça um bom conselho, Que eu lhe dou de graça, Inútil dormir que a dor não passa - . Esse deveria servir como o lema da profissão para que ninguém nunca fique  na casa do desconforto. 

Por fim, casei com uma Beatriz, a mais linda canção de amor de Francisco. De resto? Semeei o vento e  estou na rua bebendo a tempestade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário