Reprodução da Folha de S.Paulo de 13 de junho de 1993
Há exatos 23 anos, eu estava no Morumbi na quebra do jejum de títulos do Palmeiras sobre o Corinthians.
O estádio estava dividido ao meio.
Metade verde e a outra alvinegra.
Era o auge do acirramento entre os torcedores organizados. Uma semana antes, na vitória do Timão, o atacante Viola imitou um "Porco"( símbolo palmeirense), na comemoração do gol da vitória.
Não lembro de mortes por causa de confrontos entre torcedores no pós jogo, mesmo pesquisando o arquivo da Folha, não encontrei nada.
Atualmente, os tecnocratas e plutocratas decidiram que apenas 10% dos torcedores do time não mandante poderiam assistir um clássico e no ápice da incompetência deliberaram que nenhum fã poderá ver o seu clube ao vivo, quando este, não for o mandante.
Parece que estamos entrando em uma nova era, a de um conservadorismo profundo, talvez o fundamentalismo, a maior rivalidade de São Paulo poderá ser uma disputa de "fé", e não só a da bola dentro dos gramados.
Fico imaginando como será o "Derby" daqui a duas décadas e três anos, precisamente em 2039.
As mudanças começariam pelos mascotes.
Por que aonde já se viu um "Porco" e o "Gavião" representarem pequenas "nações"?
O "Porco" palmeirense, seria substituído por um "Cordeiro", aquele que tirais o pecado do mundo.
E o "Gavião" dará lugar a "Águia", assim todos, seriam elevados as alturas.
As organizadas também mudariam os nomes.
Nada de "Gaviões da Fiel" e sim "Corintios do Senhor" e "Mancha Alviverde" nem pensar, passaria a ser chamada "Verde Crente".
Os "gritos de guerra" seriam alterados até na nomenclatura, o "certo" seria "Sermão do Exorcismo".
Nenhum palmeirense elevaria a voz para incentivar com "Dá-lhe Porco", em 2039, a motivação será feita por - "Cordeiro Verde, que tirais o Pecado do Mundo"- , mesmo que não rime tanto; já os corintianos, passariam a serem denominados como "corintios", e atingiriam o ponto culminante na elevação espiritual com : "Todo Poderoso Senhor, dai-nos a vitória"- .
Em vez do hino nacional ou dos clubes, seriam "celebrados" cânticos evangélicos, tais quais "Segura na Mão de Deus" e o "Senhor é meu pastor e nada me faltará".
Nas sedes das agremiações, não teriam mais bustos de dirigentes e de ex-jogadores e sim, para pastores que fizeram sermões e exorcismos famosos, como Silas Malafaia e Marco Feliciano.
A imprensa continuaria criativa e denominaria "As brigas entre crentes torcedores " como "Guerra Santa".
O dízimo seria exigido e não mais pedido dos literalmente fanáticos durante os jogos. O pagamento poderia ser feito por dinheiro em espécie, no cartão de débito e de crédito.
Até o vale refeição seria aceito nas arquibancadas, numeradas, menos nos camarotes. Estes, por direito, serão reservados para os parlamentares, especificamente os 450 deputados e 70 senadores da turma evangélica do Congresso Nacional.
A bancada que trabalha há muitas décadas por sua "crente comunidade"conseguiu ótimos resultados, comemorados como gols em jogos de futebol: em 2016, os templos religiosos não pagavam impostos, em 17, não era cobrado o IPTU das igrejas, em 2025, pastores compravam carros sem pagar o IPI, em 2034, os "homens de Deus" traziam o que queriam do exterior sem pagar taxas alfandegárias.
Enfim, atingiu o futebol em 2039. Os ingressos não seriam mais cobrados, neste futuro imaginado e não tão distante. A lei "Feliciano" uma espécie de "Rouanet " dos fundamentalistas, obrigava a União a subsidiar a entrada dos fiéis nos campos de futebol. Assim, o lema do então presidente do Brasil, "Silas Feliciano VII" (eleito por eleição indireta), faria sentido: Fé e Circo a todos. Para comprar o Pão, não pense, trabalhe.
Afinal, Deus é Fiel!
Nenhum comentário:
Postar um comentário