domingo, fevereiro 28, 2016

O que eu aprendi com o meu cachorro!





Por Ednilson Valia, @eddycalabres - escrito em 28/02/2014 02:15

O nome dele é Xangai.

Nem com Sh ou Ch, com X mesmo, escolhido pela Bia, por intuição, e aceito por mim, de primeira, sem contestação.

O seu apelido é “Cacholinho”, também em homenagem aos chineses.

A minha cunhada, Adriana, o achou perdido na Avenida Francisco Morato, em São Paulo, na faixa dedicada ao ônibus. Cansado, triste, parecia ter desistido de procurar ou voltar ao seu lar.
Ele nos adotou desde o início. 

Mas não sabíamos.

Procuramos o seu dono em todos os veterinários da região, até descobrir que  foi abandonado.

Excelentes incautos que somos, tentamos um novo lar para o cão.

O "chinesinho" tem a linhagem de um Labrador, cor “clara” e originário da Grã-Bretanha.

Brotaram pessoas para conhecê-lo.

Até um cão é vítima de preconceito.
Quando notaram que era um maravilhoso “Vira-latas”, despejavam salivas de desculpas para escorrer na valeta da intolerância.
“Xanga” parecia saber de tudo, não demonstrava o mínimo de preocupação.
Ficou no apartamento um dia, dois , três, quatro....
Não destruiu nada e era uma festa quando chegávamos.
Compramos comidas, brinquedos, planejamos atividades com o “Cacholinho” e percebemos que já tínhamos sido "adotados".
Xangai chegou em ótima hora para amenizar o meu dia-a-dia.
Não suportava mais as mazelas, a intolerância política, religiosa e racial.
Estava me comportando igual aos intolerantes, claro que sem chegar as vias de fato, mas isso me transformava parecido ou pior do que eles.
A discussão desembestada entre a direita (cuja desigualdade social não deve ser reparada com políticas) e a esquerda (acredita no contrário, que a igualdade seja reparada com um governo de oportunidades para todos) me consumia, já que neste ano faz 50 anos do Golpe de Estado no Brasil e essa disputa:
Esquerda -direita
Direita - esquerda
Esquerda – Direita.

Não é de boa lembrança para o país.

O futebol está muito chato, as pessoas andam extremamente reacionárias e milhares de perguntas são realizadas e respondidas sem os mínimos por quês.
Observando o Xangai, no seu jeito simplista de lidar com os seus, sempre com cordialidade e bom humor, ensina-me a enxergar um mundo diferente.
Quando  solto em parques, "Xanga" corre atrás de pássaros, sozinho, pulando, simplesmente contemplando o momento.
Outro dia, o “cacholinho” demorava muito para voltar a "circular" e sai a sua procura.
O encontrei dando "fuçadas" em uma ave, sem machucá-la,  mas clamando a mesma para  voar  e ele continuar a sua diversão.
Não importa a hora, o tempo ou a situação, ele sempre se comporta da mesma forma: feliz quando em me ver.
Tatuou-se em minha memória alguns segundos de um resplendor; após brincar, em um passeio, o astuto cão sentou, quieto, sem latir ou rosnar e destinou o seu olhar para o horizonte.
Não acostumados com a quietude, tivemos a mesma atitude (eu e a Bia) e para provocá-lo o deixemos no meio e destinamos o olhar ao mesmo destino de seus olhos e lá estava: um lindo pôr-do-sol.
Após nos ver maravilhados com o cenário, Xangai nos observou e correu.

Eu aprendo todos os dias com ele. Com sua a paciência, a tolerância, o respeito e  a felicidade dele com o suficiente é tão milenar e sábia quanto à origem do seu nome. 

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