sexta-feira, junho 01, 2018

Qual é a Regra do Jogo?





            Porque devemos discutir o jornalismo



Há uma máxima na profissão que diz que o jornalista é uma ilha cercada por ignorância para todos os lados. Últimamente o dito mudou de patamar: o jornalista irradia ignorância em quaquer canto.
O que lemos, ouvimos e assistimos cada vez mais deixa de ser notícia e ganha disfarçadamente aspecto de opinião, ainda que primitiva, recheada de preconceito, intolerância e com a qualidade discutível.

O nosso trabalho em devidas proporções é parecido com as lutas “quixotescas”. Enfrentamos o ‘establisment’, temos a obrigação de informar e no máximo causar uma reflexão e nunca decidir pelo leitor, ouvinte ou telespectador o que ele deve e como pensar.

Dom Quixote, sempre apoiado pelo companheiro Sancho Pança, enfrentava os moinhos de vento, enxergando-os como criaturas cruéis, motivado pela paixão por Dulcinéia de Traboso a quem dirigiu nenhuma palavra na vida.

Gosto de pensar que o ideal no jornalismo é que você seja uma mistura de Dom Quixote e Sancho Pança ou seja que tenha o idealismo de Quixote e a objetividade e fidelidade de “Pança”.

Deixando claro que não é imparcialiadade e sim a isenção. Pois não existe textos sem substantivos, adjetivos ou verbos. E quando é escrito qualquer um destes você deixa de ser imparcial.

A narrativa de Dom Quixote é emblemática. Afinal, ele luta contra os “verdadeiros” monstros da vida real: ego, arrogância, egoísmo, passividade e outros. Mas estes, especialmente vinculados aos jornalistas.

Somos uma classe desunida, pouco solidária, arrogante, medrosa e mal remunerada.
 Inumeras vezes, boa parte dos colegas criticam o sindicato, mas nunca pisaram na sede, não sabem o nome do presidente e participar da reunião de reivindicações? é querer demais.

Nunca exigimos que se cumpram regras trabalhistas, aceitamos péssimas condições de trabalho e medrosos no momento de enfrentar o “patrão” por um jornalismo ético e isento.

Não me eximo destes adjetivos. Lembro-me quando entrei na faculdade queria ser um jornalista famoso e rico. Puro ego!

No primeiro dia de aula, o professor pediu para todos se apresentarem e eu, um jovem arrogante, me apresentei dizendo que gostaria de ser um correspondente internacional para cobrir grupos terroristas e ainda fiz aquela “carinha” de “orgulhinho”, aquele sorrisinho cínico e balançando a cabeça positivamente.

Um perfeito papel de idiota e até hoje, não virei um repórter no exterior.

A história começou a mudar quando contratei os serviços de uma empresa de capacitação profissional para jornalistas. Ali, os meus parâmetros mudaram, percebi como estava mal preparado e o quanto faltava para exercer a profissão como almejo.

E a lição continuou quando negociava uma reportagem que havia me esforçado muito com um jornal inglês. Após inúmeros contatos o periódico londrino recebeu um não da direção, pois não havia verba para tal, e assim fiz uma proposta egóica, para publicar de graça.

O editor respondeu que não faria isso, pois outros repórteres viviam de material free-lancer e isso poderia adotar diante da direção uma nova política de pagamentos. Talvez se perguntassem para os diretores, eles tivessem aceito. Mas note, que a consciência de classe e a solidariedade com os colegas, que o jornalista adotou. Fiquei com tanta vergonha, que enviei um e-mail pedindo desculpas pela postura que havia tomado.

Por estes e tantos outros motivos, após 21 anos de carreira, em boa parte na editoria de esportes, que criei um podcast para discutir o jornalismo e os labirintos que a vida de jornalista nos remete.
O podcast “A Regra do jogo” teve o nome inspirado no livro homônimo de Cláudio Abramo, o maior jornalista que este país já teve. Não é uma definição minha e sim, de Juca Kfouri e Janio de Freitas.

Animado, esperava pela repercussão (olha o ego!), para suprir minhas necessidades emocionais ou para melhorar o produto. O tema foi a capacitação profissional e sabe qual foi a ressonância?

Nem boa, também não foi ruim, muito pior: nenhuma.
Quase nenhum veículo discute a profissão, para buscarmos a reflexão na postura, uma melhor capacitação profissional e outros quesitos tão importantes.

Poucos ouviram, aliás apenas conhecidos e deram seu parecer, dos quais agradeço com veêmencia.
Alguns entrevistados deram uma conferida, outros não se deram o trabalho para ouvir.

Por isso devo desistir?

 Claro que não.

Afinal, a minha meta não é orientar-se pelos príncipios de Dom Quixote?

Este é apenas o começo.

Podcast “A Regra do Jogo”


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