terça-feira, fevereiro 02, 2021

Cream & Cracker

Espreitado pela morte e  perturbadores pesadelos fruto de uma vida solitária, o anão e contador aposentado, seo Antônio, na casa dos oitenta anos, há oito, adotou dois vira-latas para ter a quem olhar no momento do seu finamento. Os batizou de Cream(uma fêmea pequena e malhada) e   Cracker (um macho de porte médio e cor caramelo).

Seo Antônio estava quase cego, surdo e constantemente tinha  lapsos de memória que o tiravam do “ar” por horas. Cansado de esperar a esquelética de foice e capuz preto, resolveu encontrá-la. Chamou os dois companheiros a quem estimava como filhos, explicou o que estava prestes a fazer, antes do ato, fritou na gordura de porco quatro suculentas bistecas, dividiu-as entre os  “rebentos”. 

Após a refeição disse as últimas palavras sob os olhares empanturrados de Cream e do Cracker: “Quem trabalha e mata a fome, não come o pão de ninguém, mas quem ganha mais do que come, sempre come o pão de alguém”.

Após alguns minutos, entrou em casa, trancou a porta, amarrou o cinto na maçaneta e no pescoço, subiu no pequeno banco e pulou, a cinta arrebentou e Antônio bateu a  cabeça no chão e agonizou por horas até encontrar-se com o destino final.

Francisco, um sobrinho, que há dois anos havia “desaparecido”, resolveu visitar o tio para pedir dinheiro emprestado e encontrou os “perros” desesperados, latindo sem parar, ao entrar na casa tentou socorrer Antônio que já estava morto. 

O afilhado Chico não chorou, nem lamentou ou simplesmente ficou triste. Diante do corpo do tio, sorriu e procurou algo de valor na casa antes de chamar o “rabecão” e iniciar os preparativos do enterro.  Ao desarrumar as gavetas, armários, encontrou um envelope com o seu nome. Dentro havia uma carta com detalhes sobre como deveria ser o enterro, cinco mil reais para as despesas do funeral,o testamento deixando a casa e R$250 mil depositados no banco e um pedido para cuidar dos cães. 

Francisco nunca esteve tão feliz, gritava palavrões, engolia seco para cantar arrotando e ao perceber um pedaço de caibro próximo da porta da cozinha,  o pegou,  e disse a si mesmo “vou cuidar de porra nenhuma” e rumou para o quintal.

O sangue que correu nas veias de Antônio era o mesmo que corria nas artérias de Chico,  a estirpe familiar que  afagou outrora, agora queria dizimar Cream e o Cracker. Chico foi bem recebido por Cream  e desferiu o primeiro golpe, a cadelinha se esquivou mas foi atingida na costela e gritou tão agudamente chamando a atenção de Cracker, ainda gemendo pela paulada tomada a malhada tentava desviar de outras pancadas quando viu-se encurralada por Chico, que ergueu o braço até onde podia  e mirava a cabeça da cadela, Cracker correu para ajudar a companheira e por instinto fixou os 42 dentes na coxa esquerda do sobrinho. O homem instantaneamente soltou a arma empunhada e virou-se para defender-se, grudado a coxa, Cracker fez a rotação contrária.

 Os precursores berros da felicidade pela herança recebida contrastava com os alaridos da dor excruciante da pele sendo rasgada e dos dentes dilacerando o nervo de sua perna. Desamparado no chão, cercado por um “mar” vermelho, em compulsivas lágrimas desesperadas pelas dores,  Chico gritava por ajuda.

Os urros do sobrinho de seo Antônio pedindo ajuda chamou a atenção dos vizinhos, para socorrer o ferido deixaram o portão aberto. Era a  deixa para  Cracker e a combalida Cream fugirem em disparada, quando pararam de correr não sabiam onde estavam.

Abrigaram-se em uma praça não gramada, pouco arborizada, rodeada por casas imponentes. No fim da madrugada, uma senhora, manca, acima do peso e com um lenço na cabeça andou da casa frente a praça aos cachorros, que sonolentos não esboçaram reação, a mulher trazia  um balde com água fervida  e jogou sem atingi-los, ambos deram no pinote da improvisada moradia.

Nunca haviam passado por tantas agruras, estavam exaustos e famintos, a fêmea mancava da pata traseira.  Percorreram alguns quilômetros e avistaram um caminhão descarregando carne para abastecer um supermercado.Dois homens recebiam as caixas e as transportavam para dentro do estabelecimento, os dois desabrigados, lamberam os lábios observando as dezenas de peças de carne. 

Cracker se distraiu cheirando outro cachorro que passeava com o seu tutor, quando um cidadão de terno acariciou a sua cabeça, falando palavras doces, era o gerente do mercado. 

Cream, estava com muita fome, quando ouviu o chamado de  um senhor barrigudo, de cabelos brancos e um sotaque impossível de ser identificado. A cadelinha caminhou na direção do gorducho com o rabo abanando e quando estava bem próxima do indivíduo, sentou, esperando um agrado, mas recebeu um tabefe com a mão espalmada que a derrubou. 

Cream chorou mais por ter batido a costela machucada do que propriamente da bofetada. Cracker por um minuto apenas observou o humano expulsar a sua parceira.   O gerente e o tutor do cão ficaram perplexos,  mas nada  fizeram. Cream havia fugido para o meio da rua, quando um ônibus destinado ao Jardim Celestial buzinou e brecou em cima do animal, que ainda mais assustado sumiu sem rumo.  

Sob a omissão de quem poderia agir, Cracker reage se jogando sob a criatura que mal tratará à amiga, impôs as duas patas no peito do barrigudo. O homem rezava e chorava por um tardio arrependimento e Cracker sentiu um certo prazer naquela intimidação, rosnava cada vez mais alto. Intimidado, o esbofeteador que suplicava por compaixão virou o rosto para a esquerda, deixando a opulenta bochecha livre para o recebimento dos dentes de Cracker.

Com o focinho apinhado de sangue e no curso da escapadela, Cracker avistou uma caixa com inúmeros pacotes de linguiça e  não se fez de rogado para surrupiar um. O funcionário do comércio, próximo aos sacos de carne, até fez uma menção de impedir o furto, mas o gerente impediu dizendo: “ O desgraçado mereceu a mordida”.  

Cracker carregava o saco de carne a procura de Cream, conseguindo rastreá-la pelo olfato. Encontrou-a debaixo de um viaduto, solitária, encolhida e tremendo. O macho rasgou o pacote, Cream comeu dois pedaços e Cracker, devorou treze. Dormiram por horas, ao despertar avistaram a uma certa distância quatro vira-latas famintos, que espiavam a carne que havia sobrado, mas não se atreveram a se aproximar. Cracker e a Cream foram embora e a carne ficou.

Por cinco dias andaram, paravam apenas para se alimentarem do lixo alheio e para descansar. Cream mancava, sentia dores e respirava com dificuldades.  Encontraram uma casa abandonada, vizinhos deixavam água e ração para a dupla. Após 20 dias, alguém chamou o serviço municipal de recolhimento de animais, a famigerada carrocinha.  Capturados foram transportados para um abrigo de 10 metros de profundidade, com cinco de largura, fazendo companhia a outros trinta cachorros. 

Três dias de confinamento e a cadelinha Cream mal conseguia se levantar, comia pouco e todos os dias pela manhã recebia um jato frio de dois homens, que limpavam o abrigo municipal com uma máquina pressurizadora de água . 

A má alimentação, as péssimas condições de higiene e as dores constantes pioraram a saúde de Cream, que não se hidratava, apenas gemia,  tremia e respirava com extrema dificuldade.  Cracker tentava animá-la, mas Cream ficava deitada por horas sem se mexer.

No meio da noite, Cream se levantou e deu dois passos até Cracker, que tinha cochilado, lambeu por três vezes o focinho do amigo que acordou rapidamente, feliz com a reação da companheira. Por um tempo ambos trocaram lambidas, Cream se hidratou, comeu dois grãos de ração e  voltou a dormir.

Cracker acordou e  percebeu que era observado pelo cão mais velho do abrigo, se entreolharam, nenhum latido ou ruído foram expressados. Deu uma volta na cela e percebeu que o olhar do idoso ainda o perseguia, caminhou para conferir o estado de saúde da companheira, cheirou e não gostou daquele odor que vinha da amiga, com a pata a sacudiu e nenhum movimento,  lambeu o focinho da parceira  diversas vezes e um som começou a ser ouvido da sua boca, parecido com um choro, rendido e de  baixo volume.

Cracker latiu por uma hora e quando parou, ao seu redor todos os cães olhavam a cena, ele avançou sobre os companheiros de cela, como se fizesse um pedido – “façam alguma coisa” – latia para um, corria para outro, mas nada poderia ser feito.

Cracker olhou para o corpo de Cream  e soltou um uivo tão forte e triste, que arrepiou quase todos os funcionários do centro de zoonose, em seguida todos os cães uivaram e um silêncio nunca feito antes no canil se perpetuou.

Alertados pelos uivos e posteriormente do silêncio, os carcereiros correram para a jaula e notaram que a Cream estava morta. O homem mais alto e forte disse: “tira essa merda daí”. O pequeno até que tentou, com um saco de lixo se aproximar da Cream, mas recebeu como “cumprimento”  a exposição de todos os dentes  de Cracker. A dupla da carceragem retornou ao canil armados com dois enforcadores.

Dentro do confinamento tentaram  encurralar Cracker, que reagia e por horas não obtiveram sucesso.Exaurido, Cracker baixou a guarda e foi fisgado pelo estrangulador, em seguida o segundo enforcador foi empunhado no seu pescoço. Os dois cuidadores, que mais pareciam com torturadores, erguiam Cracker do chão que se debatia violentamente.

A cena era desesperadora e os cães, que até então apenas observavam,  começaram a latir, o mais velho dos cachorros, mesmo sem dentes, mordeu o tornozelo do homem forte e nem cócegas conseguiu promover no carrasco, que se defendeu desferindo um coice no ancião, que voou contra a grade caindo no chão sem vida .

A brutalidade despertou a agressividade nos outros cachorros, que atacaram os agressores do “Velho” e de Cracker, com tantas mordidas simultâneas que nem tempo de reagir os carcereiros tiveram, a não ser gritar enquanto seus corpos eram esquartejados.

Paradoxalmente, o coice que matou o cão ancião resultou na abertura do portão da saída do canil Os 27 cães escaparam, todos lambuzados de sangue, distribuindo mordidas nos outros funcionários e a quem tentasse impedi-los da fuga. 

Cracker foi o único que ficou, mesmo com os dois enforcadores na sua garganta conseguiu participar do ataque e entre os seus dentes havia um nariz decepado. Mas os enforcadores no pescoço o sufocava, sua língua estava roxa, faltava o ar, mesmo assim conseguiu caminhar até o corpo de Cream, deitou e tossiu por algumas vezes até  engasgar com o  próprio sangue,  fechou os olhos e sua respiração não foi mais notada.

O meu , o seu Obituário

O meu, o seu Obituário!

Publicado em qualquer jornal do país

São Paulo, 23 de maio de 2019

Obituário

Aos 17 minutos desta quinta-feira (23.05.2019), faleceu em São Paulo, aos 33 anos, o utópico Agosto de Jesus, atropelado no centro de São Paulo, após uma crise moral e de consciência. 

Observado por moradores em situação de rua, seus companheiros dos últimos anos, Jesus dedilhava os fios de sua farta e comprida barba grisalha nos primeiros minutos da madrugada, tendo em sua companhia um cão magro, preto, de expressão triste que o encarava como se fosse a hora de partirem juntos.

A sua feição apresentava formas incompreensíveis, de sua boca (de onde era sentido um forte odor de conhaque palhinha a distância) nasciam frases ditas como se fossem sussurros e as testemunhas oculares, pasmas com o que ouviam, acreditaram que aquelas palavras eram regras gramaticais e textos de uma vida não vivida que Jesus confessava ao espelho nunca ter colocado no papel. 

Aquele enfrentamento diante de sua imagem e semelhança causou algum impacto em sua mente e comportamento. Minutos após o “duelo” contra si, tomou um trago desnorteante de sua bebida derradeira e acolheu em seus braços o cão, nunca visto até aquele momento por nenhum dos presentes.  

Abraçado ao cão, que o fitava ternamente, ficou em posição de dança no meio fio da calçada, declinou e apanhou uma coxa de frango no chão, dividiu com o parceiro no colo, devorando-a como se fossem reis, e depois debochou da vida pela última vez. 

Aquela situação inusitada continuou, com a dança ensaiada antes, após tragar um cigarro pego de um transeunte. Não havia melodia, mas a cantoria era exercida a plenos pulmões com os seguintes versos:

“Como se pode dizer adeus, se Deus nunca existiu”

“Se escrever o seu destino é sofrer, padecemos no limbo”

Em seguida, tropeçou na calçada e foi atropelado por um ônibus da linha Santana – Juquery.

Naquele exato momento, passavam pelo local do acidente treze mulheres carpideiras, que choraram pelo cão. 

Não deixou filhos e dizia que fez um favor à família por tê-la esquecido.

O registro do Canalha

 CANALHA.


O Senhor ficou maluco? Não pode chegar aqui no cartório e me chamar de “Canalha”.


Eu exijo respeito.


Vossa graça não entendeu, estou registrando o nome do meu filho. E vai ser Canalha.


Meu caro, Canalha não pode. Nunca ninguém registrou esse nome. O senhor não pode fazer isso com a criança.


Senhor escriturário, agradeço a sua preocupação, mas eu já decidi e vai ser Canalha.


Eu me recuso a registrar este esse nome… indigno!


Vou chamar o Tabelião!


Senhor Mustafá, por obséquio, venha cá.


Qual é a sua graça, meu nobre colega?


Bem Vindo!


DEUS PAI MISERICORDIOSO!


O Senhor Boas Vindas…


B-E-M V-I-N-D-O-O!


Perdão! O vosso amigo, aqui presente, quer fazer uma canalhice com o nome do filho!


Que canalhice?


Quer colocar o nome de CANALHA na criança?


Canalha.


Santa Gertrudes, eu entendi, mas qual é o nome do canalha?


De Canalha!


Cala a boca, Atanagildo. Ô Bem Prevenido, qual é o nome do canalha que quer colocar na Criança?


É B-E-M V-I-N-D-O-O-O. Não é de nenhum Canalha. O nome é CANALHA.


CANALHA?


Sim. CANALHA.


O SR. BEM NUTRIDO ENDOIDECEU, É?


É B-E-M V-I-N-D-O-O-O-O.


Não pode colocar palavrão como nome de pessoa.


Canalha não é palavrão! Vem do latim Canís.


Ah, Doutor Mustafá, já entendi. O Bem – Vínculo é maconheiro. Canis Sagarativa é maconha


É B-E-E-M-M-M V-I-I-N-N-D-O-O-O! Canalha vem do latim Canis, que é cachorro.


O senhor vai colocar um nome de cachorro no seu filho?


Padre nosso, que estais no céu. Dai me paciência. O senhor sabe a origem do seu nome, Mustafá?


Mas é claro que eu sei e é lógico. Vem do meu pai, que era o do meu avô, que era do pai dele, que também era do avô materno, e do avô do meu bisavô.


O SIGNIFICADO DO NOME.


Não quem deu o nome.


Ah, não sei não.


Portanto, eu quero CANALHA.


Num sei não. Vou ligar para o juíz Caminha.


Então ligue.


Alô, Juiz Caminha.


Você ligou para o Tribunal, aperte 1 para falar com a recepção, aperte 2 para o andamento do processo…]


Será que é aperte uma vez ou o número 1? Vou de um.


Bom dia, Décimo sexto Tribunal Regional, Terça falando!


Minha senhora, está adiantada, hoje é segunda!


Toda vez é essa brincadeira imbecil, não aguento mais.


A senhora é muito grosseira, viu! Me deixe falar com o juiz Caminha!


Besta. Um minuto.


Doutor Caminha, uma ligação para o senhor!


Pode passar.


Alô, quem é?


Alô juiz, é o Mustafá!


Musta, como está a fá. hahahahaha


Sempre de bom humor, hein juiz. Mas quero fazer uma reclamação. A sua atendente é muito mal educada. Ela atendeu falando que era Terça, eu a corrigi dizendo que é segunda.


Ah, Mustafá, como você é burro. hahahahahahahahhaaha. O nome dela é Terça-feira.


É hoje. Mas vamos ao que interessa, juiz Caminha, tem um senhor aqui no cartório, o Bem Benevolente….


É B-E-M V-I-N-D-O-O-O-O, TURCO IDIOTA!


Ele quer colocar um nome estranho no filho.


Qual nome?


CANALHA.


Tá, quem é o canalha, Mustafá? Diga quem é, seu turco miserável e infeliz!


Não doutor, não. Esse é o nome que ele quer colocar.


Ahhhhh, entendi. E qual é o problema?


É um palavrão, doutor!


Mustafá, como você conseguiu uma concessão do seu cartório?


DOUTOR, DOUTOR, É UMA LONGA HISTÓRIA. HAHAHA


CALA A BOCA , MUSTAFÁ, ERA UMA PERGUNTA RETÓRICA. Canalha não é palavrão e vem do latim.


Então, doutor, pode colocar nome de droga no filho?


Que droga, Mustafá, que Droga ?


Ué, Maconha não é Canis Sagatiba?


Santo Deus, me mate, por favor. Mustafá, maconha é cannabis Sativa.


O nome é prerrogativa do pai e da mãe. Deixe o BEM-tranquilo colocar o nome que quiser.


Tchau, Mustafá.


Doutor!


O que é, Mustafá?


É Bem Vindo.


Que homem mal educado. Desligou na minha cara.


Bom, senhor Bem-te-vi e Atanagildo, o nome é prego da tia e os pais podem colocar o que quiserem.


BEM-TE-VI É A TUA VÓ. É BEM VINDOOOOOOOOOO!


Faz isso logo, Atanagildo, vou voltar para o escritório.


Então, vamos lá. Mas fica registrada a minha indignação.


Qual é o nome completo da criança?


Canalha de Esperança.


Sim, o senhor quer dar esperança ao seu filho. Entendi. Mas eu disse nome e sobrenome.


Vai começar tudo de novo. De Esperança é o SOBRENOME.


Com esse nome, não vai ter esperança nenhuma.


Rá Rá Rá, o senhor ATrazildo é muito engraçado!


É ATANAGILDOOOO! Vamos lá! Seu nome e sobrenome?


É Bem Vindo de Esperança. Se escrever errado vou te dar um murro.


O nome da mãe é Solidão de Esperança.


Solidão?


É Solidão.


De ficar sozinho?


Não é um adjetivo, é um substantivo. Um nome.


Num sei não. Doutor Mustafá vem aqui por favor.


O BEM BRASIL quer colocar um substituto, no lugar do adja, adja… adjatuntivo no nome da mãe.


É BEM VINDOOOOOOOOOOOOO!


Ô, Atanagildo, eu já não disse que o nome é “prego da Tia” dos pais? Faz isso logo e não me encha mais o saco, que tudo isso já passou dos limites.


Certeza ,doutor?

Nome dos pais do senhor e da dona Solidão?


Meu pai é Feliz e da minha mãe é Ignorância.


Da Solidão, o pai se chama Presente e a mãe, Dona Aflição.


Quer saber de uma coisa,? SEO Bem Vindo, tem razão, o nome do seu filho só poderia ser CANALHA.


Está aqui a certidão de nascimento e passar bem!

sexta-feira, junho 01, 2018

#2- Podcast - Especial Alberto Dines - Estamos produzindo Midiotas






Pioneiro, inteligente e ético, Alberto Dines pode ter morrido no dia 22 de maio, aos 86 anos, deste 2018, mas o seu legado continua em voga.

Criador do portal Observatório da Imprensa, cujo slogan é "Você nunca mais vai ler o jornal do mesmo jeito", que não é sugestivo e sim literal.

Destemido, resolveu refletir, questionar e apontar os problemas do jornalismo e dos jornalistas. Pagou um preço alto por lutar por uma produção jornalística de qualidade.

Perdeu empregos, foi perseguido e entrou para a "lista negra" de vários veículos de comunicação.




Recebeu pouca solidariedade dos colegas, mas disse em uma entrevista: " É o preço que eu pago, é o preço que todo jornalista tem que pagar. O jornalista que pensa em sucesso, não vai ser bem-sucedido.”

O segundo episódio do Podcast "A Regra do Jogo" não quer relembrar a vida ou a sua trajetória pessoal, mas levar até os ouvintes a sua lucidez, perspicácia e o seu senso de ética.

Espero que gostem do programa!
Apresentação, produção e Edição
Ednilson Valia @ednilsonvalia
Caderno Cultural
Ricardo Ballarine - https://bit.ly/2kwk7q6

Vídeos que foram compiladas as respostas

Programa Roda Viva com Alberto Dines
https://bit.ly/2kwRkSn


Alberto Dines - 50 anos de jornalismo.

https://bit.ly/2IZvH7Z

Alberto Dines - Biografia | WEB TV FACHA
https://bit.ly/2sgvlDp

Alberto Dines diz que a apuração da informação é essencial para o jornalismo
https://bit.ly/2kyP3Gf

Alberto Dines fala sobre o papel social do jornalista
https://bit.ly/2IWfmRl

Referências citadas no programa
Alberto Dines - https://bit.ly/2s8fJ48
Site Observatório da Imprensa - https://bit.ly/1ftKB5C
Jornal do Brasil - https://bit.ly/2GS0yCE
Naum Sirotsky - https://glo.bo/2kxZ2eZ
Samuel Wainer https://bit.ly/2L3FI4A
Jornal Última Hora - https://bit.ly/2IULlpj
Jornal Diário da Noite - https://bit.ly/2xnqZ2t
Assis Chateaubriand - https://bit.ly/2xuZELE
João Calmon - https://bit.ly/2IXyjrb
Antonio Oliveira Salazar - https://bit.ly/2IXyjrb

Boris Casoy - https://bit.ly/2smcdDq
Paulo Bittencourt - https://bit.ly/2Jcw9mG
Juracy Magalhães - https://bit.ly/2H0CXP3
Jornal O Globo - https://glo.bo/2rA2HLT
Abraji - https://bit.ly/2sjCMK8
Graciliano Ramos - https://bit.ly/ZJfXhx
Golpe Militar no Brasil em 1964 - https://bit.ly/1fbstYM
Mauro Malin https://bit.ly/2LJ097U
Golpe Militar no Chile em 1973 - https://bbc.in/2IXZgqB
Gylmar Mendes - https://bit.ly/2kyhnZq

Agradecimentos:
Leonardo Muller -https://bit.ly/2rBznoV
Thiago Uberreich - https://bit.ly/2xosHRn
Ulisses Neto - https://bit.ly/2xosHRn
Raul Andreucci - https://bit.ly/2LHJi5p
Silvio Luiz Pansera - @Cowboysl
Gustavo Grohmann - @ggrohmann ‏
Ricardo Ballarine - https://bit.ly/2kwk7q6

O Podcast A Regra do Jogo Recomenda
Petit Journal - https://bitly.com/
30 Minutos - https://bit.ly/2IY2ydr
Anticast - https://bit.ly/2cXEiuO
BRIO - Jornalismo para os seus novos tempos -  https://briohunter.org/
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Qual é a Regra do Jogo?





            Porque devemos discutir o jornalismo



Há uma máxima na profissão que diz que o jornalista é uma ilha cercada por ignorância para todos os lados. Últimamente o dito mudou de patamar: o jornalista irradia ignorância em quaquer canto.
O que lemos, ouvimos e assistimos cada vez mais deixa de ser notícia e ganha disfarçadamente aspecto de opinião, ainda que primitiva, recheada de preconceito, intolerância e com a qualidade discutível.

O nosso trabalho em devidas proporções é parecido com as lutas “quixotescas”. Enfrentamos o ‘establisment’, temos a obrigação de informar e no máximo causar uma reflexão e nunca decidir pelo leitor, ouvinte ou telespectador o que ele deve e como pensar.

Dom Quixote, sempre apoiado pelo companheiro Sancho Pança, enfrentava os moinhos de vento, enxergando-os como criaturas cruéis, motivado pela paixão por Dulcinéia de Traboso a quem dirigiu nenhuma palavra na vida.

Gosto de pensar que o ideal no jornalismo é que você seja uma mistura de Dom Quixote e Sancho Pança ou seja que tenha o idealismo de Quixote e a objetividade e fidelidade de “Pança”.

Deixando claro que não é imparcialiadade e sim a isenção. Pois não existe textos sem substantivos, adjetivos ou verbos. E quando é escrito qualquer um destes você deixa de ser imparcial.

A narrativa de Dom Quixote é emblemática. Afinal, ele luta contra os “verdadeiros” monstros da vida real: ego, arrogância, egoísmo, passividade e outros. Mas estes, especialmente vinculados aos jornalistas.

Somos uma classe desunida, pouco solidária, arrogante, medrosa e mal remunerada.
 Inumeras vezes, boa parte dos colegas criticam o sindicato, mas nunca pisaram na sede, não sabem o nome do presidente e participar da reunião de reivindicações? é querer demais.

Nunca exigimos que se cumpram regras trabalhistas, aceitamos péssimas condições de trabalho e medrosos no momento de enfrentar o “patrão” por um jornalismo ético e isento.

Não me eximo destes adjetivos. Lembro-me quando entrei na faculdade queria ser um jornalista famoso e rico. Puro ego!

No primeiro dia de aula, o professor pediu para todos se apresentarem e eu, um jovem arrogante, me apresentei dizendo que gostaria de ser um correspondente internacional para cobrir grupos terroristas e ainda fiz aquela “carinha” de “orgulhinho”, aquele sorrisinho cínico e balançando a cabeça positivamente.

Um perfeito papel de idiota e até hoje, não virei um repórter no exterior.

A história começou a mudar quando contratei os serviços de uma empresa de capacitação profissional para jornalistas. Ali, os meus parâmetros mudaram, percebi como estava mal preparado e o quanto faltava para exercer a profissão como almejo.

E a lição continuou quando negociava uma reportagem que havia me esforçado muito com um jornal inglês. Após inúmeros contatos o periódico londrino recebeu um não da direção, pois não havia verba para tal, e assim fiz uma proposta egóica, para publicar de graça.

O editor respondeu que não faria isso, pois outros repórteres viviam de material free-lancer e isso poderia adotar diante da direção uma nova política de pagamentos. Talvez se perguntassem para os diretores, eles tivessem aceito. Mas note, que a consciência de classe e a solidariedade com os colegas, que o jornalista adotou. Fiquei com tanta vergonha, que enviei um e-mail pedindo desculpas pela postura que havia tomado.

Por estes e tantos outros motivos, após 21 anos de carreira, em boa parte na editoria de esportes, que criei um podcast para discutir o jornalismo e os labirintos que a vida de jornalista nos remete.
O podcast “A Regra do jogo” teve o nome inspirado no livro homônimo de Cláudio Abramo, o maior jornalista que este país já teve. Não é uma definição minha e sim, de Juca Kfouri e Janio de Freitas.

Animado, esperava pela repercussão (olha o ego!), para suprir minhas necessidades emocionais ou para melhorar o produto. O tema foi a capacitação profissional e sabe qual foi a ressonância?

Nem boa, também não foi ruim, muito pior: nenhuma.
Quase nenhum veículo discute a profissão, para buscarmos a reflexão na postura, uma melhor capacitação profissional e outros quesitos tão importantes.

Poucos ouviram, aliás apenas conhecidos e deram seu parecer, dos quais agradeço com veêmencia.
Alguns entrevistados deram uma conferida, outros não se deram o trabalho para ouvir.

Por isso devo desistir?

 Claro que não.

Afinal, a minha meta não é orientar-se pelos príncipios de Dom Quixote?

Este é apenas o começo.

Podcast “A Regra do Jogo”


A regra do Jogo - Capacitação profissional





A regra do jogo é um podcast que discute o jornalismo. O primeiro episódio tem como tema a capacitação profissional no jornalismo.
Referências:
Abertura
Série House of Cards (https://bit.ly/2rBeMBU)
Diálogo da Repórter Zoe Barnes com Tom Hammerschmidt, o editor executivo e a proprietária do "The Washington Herald", Margaret Tilden.
(7'22'' e 8'19'').
Caderno Cultural
Palácio da Memória (http://thememorypalace.us/)
Podcast Caixa Preta - Volt Data Lab
https://www.voltdata.info/caixapreta
Podcast NBW
https://bit.ly/2jOEWNe




Nome inspirado no Livro "A Regra do Jogo", autor Cláudio Abramo
https://www.estantevirtual.com.br/livros/claudio-abramo/a-regra-do-jogo/2838006276?q=Cl%E1udio+Abramo
Entrevistados
Jorge Tarquini, Coordenador de pós-graduação do curso de jornalismo da ESPM - (https://goo.gl/Ykoj1Y).
Breno Costa, chefe do desenvolvimento jornalístico do Brio Hunter
(https://goo.gl/ALifC1) e Mentoria (https://briohunter.org/mentoria/)
Verônica Machado, responsável pelo site Jornalista 3.0
(https://goo.gl/4fjfFQ)
Natália, chefe de interação e Networking do Brio Hunter
(https://goo.gl/ALifC1)
Fred Guedini, presidente da Associação Profissão jornalista
(https://goo.gl/F8bNmR)
Tiago Mali, coordenador dos cursos da Abraji (https://goo.gl/JLDZ84)
Milton Siles Simas Júnior, presidente do Sindicato dos jornalistas no Rio Grande do Sul - (https://goo.gl/1Hg9r6)
Alessandra Cezar Mello, presidenta do Sindicato dos Jornalistas em Minas Gerais (https://goo.gl/28FmJa)
Samira de Castro, presidenta do Sindicato dos Jornalista do Ceará
(https://goo.gl/we6eTE)
Sheila Faro, presidenta do Sindicato dos jornalistas do Pará
(https://goo.gl/gnC6V7)
Vanderlei Ponzzenbon, Coordenador Geral do Sindicato dos Jornalistas de Brasília (https://goo.gl/WLTvNF)
Apresentação e idealização -
Ednilson Valia
Apresentação Caderno Cultural
Ricardo Ballarine
Voz das vinhetas
Leonardo Muller https://bit.ly/2rBznoV
Trilhas
BenSound https://bit.ly/2wFKZw3
Freesound https://bit.ly/2ocFQWU
Imagens
Pixabay
https://bit.ly/2ACRUHP

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segunda-feira, julho 24, 2017

Quem derrubou João Saldanha na Seleção Brasileira?

Imagem publicada no Facebook de André Ike Siqueira

Centenário de João Saldanha

Este texto foi publicado no Blog do Menon 

Após 47 anos, a pergunta é a mesma

Qual dirigente demitira um treinador com 100% de aproveitamento em competições oficiais? Ou derrubaria um técnico após recuperar a Seleção Brasileira vindo do seu maior fracasso em Copas do Mundo? E dispensaria o comandante do selecionado que venceu 14 duelos, perdeu duas partidas e empatou uma, cujo time marcou 54 gols, com média de 3,17 de tentos marcados e sofreu apenas 0,88 gol por jogo?

O cartola que tomou está atitude foi João Havelange (morto em 2016) e o demitido João Saldanha, que em 03 de julho de 2017, comemoraria o  seu centenário se estivesse vivo ( João Saldanha faleceu em 1990).

O gaúcho de Alegrete aceitou o convite da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), para assumir o comando do time brasileiro após o pior resultado da Seleção em uma Copa do Mundo: o fiasco na disputa do mundial de 1966, quando o escrete nacional foi desclassificado na primeira fase. Posteriormente, amistosos com resultados pífios e o vai e vem de técnicos agravaram a crise e a descrença na Seleção Brasileira.

Após a competição onde a Inglaterra sagrou-se campeã pela primeira vez, Saldanha empunhou o seu microfone no rádio e na TV e  escrevia suas colunas no “Jornal do Brasil” denunciando e acirrando com críticas ferrenhas a desorganização e a corrupção do futebol brasileiro.

Sonia Saldanha, filha do jornalista e técnico, lembra do momento que o gaúcho comunicou a família sobre o convite de comandar a Seleção Brasileira: “Papai reuniu todos os filhos e disse: “Eu vou aceitar, mas não vou terminar o trabalho. Eu tenho contribuição para dar. Eu estou apenas informando a vocês” ”.

Em 1969, o Brasil vivia uma ditadura militar cujo Presidente da República era um General que gostava muito de futebol, Emílio Garrastazu Médici.  João era militante do Partido Comunista Brasileiro, participou de revoltas populares, não se negava a criticar o regime em plena censura da imprensa. Então, por que convidá-lo?

O próprio Saldanha havia declinado dois convites para assumir o comando da Seleção Brasileira (1958 e 1968). Mas em 1969, um pessimismo tomava conta do time bicampeão do mundo, que havia feito uma péssima campanha em 1966 e o país vivendo uma ditadura militar violenta, com presos políticos e mortes por tortura. Saldanha acreditava que poderia ser útil para política e para o futebol.

“A ditadura queria usar o futebol como cortina de fumaça para os crimes políticos que cometia e incrementava a campanha ufanista do “Brasil ame-o ou deixe-o” e João não iria fazer esse papel de puxa-saco dos militares”,  diz André Iki Siqueira, jornalista  e biógrafo de João Saldanha.

André na biografia escrita em 2007 - “João Saldanha, uma vida em jogo”- publica um depoimento de Havelange negando que a escolha de João tenha sido dele: “Quando tivemos de compor a comissão técnica da CBD para preparar a seleção, como presidente dei a chefia ao Dr. Antonio do Passo que teve a liberdade de fazer a escolha dos elementos de compô-la. Portanto quem fez o convite ao Sr. João Saldanha foi o Dr. do Passo”.

No mesmo livro, André colheu o depoimento do jornalista Luiz Mendes, falecido em outubro de 2011: “Pois Havelange colocou justamente o inimigo no poder, tirou desse inimigo o poder de fogo. E todos da imprensa não contestaríamos a escolha de um companheiro nosso, que tinha um currículo de técnico e havia sido campeão pelo Botafogo em 1957. Não dava para contestar isso”.

O jornalista Juca Kfouri, colunista da Folha de S.Paulo , tem o pensamento na mesma linha de Mendes: “Era um jeito de tentar a cumplicidade da imprensa”.

Após o sucesso de João Saldanha nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, a Seleção Brasileira conquistou vitórias nos seis jogos que disputou. Cem por cento de aproveitamento.

Para a CBD, a crise no futebol havia terminado e outra começava. O temperamento forte de João com a forte influência do Governo Militar na Confederação Brasileira de Desportos (Em 1979, passou a se chamar Confederação Brasileira de Futebol (CBF)), que não via com bons olhos um militante comunista ter a oportunidade de conquistar um título de Copa do Mundo.

O jornalista Carlos Ferreira Vilarinho, autor do livro “Quem derrubou João Saldanha”, da editora Livrosdefutebol.com, publicado em 2010, contou a reportagem um episódio que contribuiu para a demissão: “Em 28 de fevereiro de 1970, Armando Nogueira informou no Jornal do Brasil que uma das “fixações” de Médici era o artilheiro do Atlético Mineiro, cuja convocação já defendera numa conversa com o chefe de relações públicas da presidência, um coronel do Exército (palpite publicado por Armando Nogueira em coluna de 28 de janeiro). Médici sustentava que na Seleção havia lugar para Dario “como precioso suplente”. Pois bem, em três de março, um repórter da TV Gaúcha, afiliada da TV Globo, lançou a pergunta desafiadora: “Saldanha, o presidente Garrastazu Médici está no Rio Grande do Sul e ele parece que havia sugerido o nome de Dario para ser convocado. O que você acha da sugestão do presidente? Saldanha respondeu: “O Brasil tem oitenta ou noventa milhões de torcedores e gente que gosta de futebol. É um direito que todos têm. Aliás, eu e o presidente, ou o presidente e eu, temos muitas coisas em comum. Somos gaúchos. Somos gremistas. Gostamos de futebol. E nem eu escalo o ministério, nem o presidente escala time. Então, tá vendo que nós nos entendemos muito bem””.

André Iki Siqueira não tem dúvidas sobre quem tomou a decisão de demitir o treinador: “Eu não tenho dúvida que João foi derrubado do comando da Seleção pelos militares, mas não há documentos que comprovem uma ordem de Médici, a quem João considerava o maior assassino da história do país por ter permitido a morte de vários de seus camaradas do PCB e de outras organizações de esquerda, além de seqüestros e torturas, sempre denunciadas por João, mesmo enquanto dirigia a Seleção. O sucesso de João na Seleção virou um problema de Estado”.

O Ministério da Educação e Cultura (MEC), que tinha como titular da pasta, Jarbas Passarinho. Também o responsável à época pela para “tutoriar” a CBD.

A filha de João, Sonia, lembra que o principal opositor as ideias do pai era “O Ministro que voava (Passarinho)”, este que não admitia que um comunista ganhasse a copa, representando o povo e a seleção.

Uma versão diferente tem o jornalista Vital Bataglia, então editor e repórter do Jornal da Tarde: “Não, não foi o ditador Médici e sim o próprio João. Ele não agüentava mais o relacionamento com Pelé e outros jogadores”.

A polêmica entre João Saldanha e Pelé causou muita agitação na imprensa. No documentário “João” com direção de André Iki Siqueira e Beto Macedo, de 2008, tem um depoimento do Rei do Futebol em 1969, aprovando João: “Porque ele (Saldanha) não é técnico de nenhuma equipe. (Saldanha) não tem vínculo com nenhuma equipe do Brasil, ele pode  fazer e desfazer sem preocupação de agradar A ou B e é por isso que sou a favor totalmente de Saldanha na Seleção ".

“A miopia de Pelé (na vista direita - 2,2 graus) fora diagnosticada pelos médicos da CBD em 1958. Quando acabou a reunião do dia 17 de março de 1970 – que consumou sua demissão – Saldanha tomou o elevador e deixou o prédio da CBD. Antes de entrar no carro, revelou: “Saí porque no meu time Pelé não jogava mais. Nas 17 partidas pela seleção brasileira em que ele atuou esteve sempre mal. Nos jogos noturnos, então, nem se fala. O crioulo perdia inteiramente a visão de campo.  Expliquei ao médico [Lídio Toledo] que assim que Pelé voltasse à sua melhor forma física, teria chance de voltar ao time. Como estava é que não seria mais possível. Pessoalmente, Pelé nada tem a ver com isso. Se está mal, não é por culpa dele. Jamais poderia acusá-lo de má vontade comigo”, explicou Carlos Vilarinho sobre os acontecimentos entre o camisa dez e o técnico.

André Siqueira ressaltou que mídia não tratou o fato com isenção:
“O episodio foi um dos mais amplificados e distorcidos por setores da mídia. Nenhuma chance do João deixar Pelé de fora do time, nem que só tivesse um olho. Ele adorava o Pelé e sabia do talento e da força do melhor jogador do mundo. Entrevistei o Pelé para o meu livro e sei que ele também gostava do João”.

Em depoimento a TV Brasil, no programa Mundo da Bola, em 02 de julho de 2017, o atleta do século, segundo o jornal francês L’Equipe , falou sobre Saldanha: “Estávamos juntos na Seleção Brasileira e ele (Saldanha) tinha uma grande capacidade de unir o grupo. Ele disse que eu tinha miopia e eu tinha mesmo”.

Para Battaglia o capítulo derradeiro da demissão foi um programa na TV Globo: “O Armando Nogueira fez criticas fundamentais ao técnico no que se refere à parte tática, e acima disso, vir a publico para dizer que “Pelé estava enxergando mal” ".
 O bairrismo entre a imprensa Carioca e paulista teve interferência na continuidade do trabalho na Seleção Brasileira. Juca Kfouri lembrou que os veículos de comunicação nunca deixaram de criticar João Saldanha: “principalmente em São Paulo, talvez por ciúme”.

Vilarinho ressaltou: - A imprensa mantinha com Saldanha uma relação de amor e ódio. Quando ele assumiu o escrete, a imprensa paulista cuspiu fogo. Por exemplo, o Jornal da Tarde deu em manchete: “Nós perdemos a Seleção”. A Gazeta deu em primeira página: “João Saldanha, jornalista carioca e técnico por acaso”. Saldanha costumava reagir às provocações dos repórteres com ironia e deboche. Em agosto de 1969, na Colômbia, chegou a prometer que não daria mais entrevistas.

Sonia lembra que o pai tratava com desprezo os jornalistas que utilizavam de outros argumentos para criticá-lo. "Ele (Saldanha) tinha o temperamento muito forte. Não aceitava as provocações dos “coleguinhas”. A sua escolha já desagradou a todos. Na hora do jogo não mudava o esquema, não fazia mistério. Isso é papo para vender jornal. Ele tinha tudo na cabeça”, diz a saudosa filha.

Carlos Alberto Parreira, técnico campeão do mundo pela Seleção Brasileira em 1994, fazia parte da comissão técnica em 1970, como auxiliar do preparador físico, atendeu ao repórter por telefone.

Parreira estava em Londres e teve o sono interrompido, mas atendeu a ligação com educação e cortesia. Carlos Alberto elogiou a capacidade de Saldanha de unir o grupo e  a sua capacidade de comunicação. Em contrapartida disse que o esquema tático de Zagallo melhorou o coletivo do time.

Zé Maria, então jogador do Corinthians, lateral direito reserva de Carlos Alberto Torres na Copa de 70, confirma a simpatia dos jogadores por Saldanha, mas discorda de Parreira sobre a  parte tática: “Nós adorávamos o João. A definição do time titular e a cobrança dos jogadores reservas para uma melhora técnica deixou  todos tranqüilos. Além de deixar o esquema mastigado para o Zagallo”.

Segundo Carlos Vilarinho, Armando Nogueira também comentou as alterações táticas entre Zagallo e Saldanha: “A alteração de estrutura em relação ao comando anterior, de João Saldanha, é clara, pois, enquanto a orientação dada até aqui destacava a agressividade com finesse, daqui em diante, o padrão ofensivo deverá ser substituído por uma cautela que talvez transforme em contra-atacantes os atacantes da equipe”.

 “Meu pai recebeu alguns jogadores, entre eles, Gérson, Brito que foram ser solidários e papai pediu para eles não tomarem nenhuma atitude que poderia prejudicá-los”, retratou Sonia Saldanha logo após a demissão de João.

 O ex-jogador Zé Maria lembrou que Saldanha despediu-se individualmente de alguns jogadores com palavras de encorajamento.

Em abril de 1969, Antônio do Passo havia declarado: “Estão enganados aqueles que pensavam que Zagalo seria o técnico, caso Saldanha não aceitasse o convite. O treinador seria Yustrich, sendo Zagalo o terceiro nome de minha lista”.

“No dia 17 de março, entretanto, Yustrich foi descartado - para grande decepção dele e do Flamengo – pois quando surgiram os boatos de que ele poderia assumir, os jogadores disseram que se ele fosse o escolhido “arrumariam as malas e cada um iria para sua casa””, afirmou Vilarinho.

Yustrich é um caso a parte na história da demissão de Saldanha. Vilarinho detalha o “incidente” com então treinador do Flamengo: “Yustrich, era um agente provocador fascista. No dia 12 de março de 1970, ainda irritado com o cancelamento do amistoso contra o Flamengo (marcado para o dia 15), Saldanha recebeu de Antônio do Passo a notícia da marcação de um jogo-treino contra o Bangu, no dia 14. Entretanto, chegaram ao seu conhecimento os novos insultos de Yustrich, publicados na imprensa de São Paulo e da Guanabara. À noite, armado com um revólver, Saldanha invadiu a concentração rubro-negra para tirar satisfações, mas não o encontrou. Na sexta-feira, Saldanha só não agrediu um repórter porque foi contido por outros jornalistas. No sábado (dia 14), jogando de forma displicente, o Brasil só empatou com o Bangu: 1x1. No mesmo dia, Yustrich deu o caso por encerrado, mas avisou: “O Exército pode até intervir na Seleção”. Sua fonte era "quente". "De fato, Jarbas Passarinho (ministro da Educação) determinou a um dos auxiliares da preparação física (o capitão Cláudio Coutinho) que assumisse o lugar de Russo e lhe disse que a comissão ia ser trocada, pois já tinha acertado tudo com Havelange”.

Dino Sani, amigo de Saldanha e técnico do Corinthians, em 1969, foi o primeiro nome a ser cogitado para ocupar o lugar de Saldanha. “Eu não quis pegar o emprego, pois ele (Saldanha) era meu amigo, a amizade era boa. O Saldanha disse pra mim que deveria ter aceitado ”.

Outra preocupação dos militares, caso João Saldanha tivesse ficado no cargo e conquistasse o tricampeonato mundial o que poderia significar o título para no Brasil?

Vilarinho tem uma pergunta para buscar a resposta: “Há quem diga que Saldanha foi demitido porque nunca permitiria que os jogadores subissem a rampa do Palácio do Planalto para um encontro com Médici. Trata-se de uma enorme tolice, pois técnico algum teria esse poder. Todas as vezes que a seleção brasileira conquistou a Copa do Mundo, os jogadores, assim que voltaram ao Brasil, foram recebidos pelo presidente da República, fosse ele civil ou militar. E Saldanha? Teria se recusado a subir a rampa? Ninguém sabe a resposta.”

“Um comunista histórico conquistando uma Copa do Mundo e denunciando a ditadura teria muita força, principalmente no exterior. Mas acho que esse era um pensamento secundário. Ele aceitou o desafio, realizou um trabalho brilhante, seriamente, inquestionável, e queria ganhar a Copa, claro. Mas sabia que teria um canhão na mão contra os militares”, refletiu André Siqueira.

Quem derrubou João Saldanha do cargo de técnico da Seleção Brasileira ficará para a conclusão do leitor. Sonia Saldanha faz uma síntese (substantivo do qual o pai era mestre nos seus comentários no rádio e na TV ou nas suas colunas nos jornais), sobre a falta que João Saldanha faz: “Nenhum jornalista será igual a ele”.




terça-feira, maio 30, 2017

Delatar é o verbo para a liberdade!

Engenheiros de estatais delatam diretores

Que denunciam marqueteiros

E os publicitários acusam assessores de deputados

Estes revelam senadores

Contudo, abrem o bico, confessam as estripulias dos congressistas

Os mesmos culpam os prefeitos

E os alcaides deduram os governadores

Que acharcam os ministros

Executores reclamam para o Presidente

O chefe pede dinheiro para o empresário

Que o cagueta para a PF

Todos continuam livres e passeando em suas mansões e no exterior

Preso somente o povo em sua pobreza e

nas reformas TEMEROSAS!

sexta-feira, julho 01, 2016

Um dia pensei que fosse o "Mike Tyson" brasileiro!


Mike Tyson me fez amar o boxe. Em uma viagem à Serra Negra para o clube de campo Vale do Sol, eu e meu pai ficamos acordados até às 3h00, em um auditório cuja a média de idade dos espectadores era a mesma de Matusalém no 'dilúvio'.

Os velhinhos produziam burburinhos tão altos que acordariam uma girafa e para festejar havia uma 'sinfonia' de flatulências que Ali, Frazier e Tyson não dariam nem para 'cheiro' .

 O esforço para ver o embate durou pouco. Pois Luciano do Valle narrou apenas quatro rounds do nocaute de Mike sobre Larry Holmes.

 Graças ao mito (Tyson) tive uma aventura como 'lutador': fui até o clube Sampaio Moreira, perto do metrô Carrão, na capital paulista, para praticar a nobre arte. 

No primeiro treino torrei tanto o saco do treinador para subir no ringue, que ele permitiu que eu lutasse com o mais experiente daquela academia. 

Eu me achava uma espécie de 'Tyson brasileiro', fechei a guarda e munido de capacete e luvas parti pra cima do oponente. O adversário era um homenzarrão, que dava risadas enquanto eu tentava 'bailar' no ringue. 

Ele ameaçou me bater com a esquerda, eu fechei a guarda e tentei um jab e ali,naquele fatídico segundo da escolha errada do soco, foi sepultada uma das carreiras mais promissoras de todos os tempos da categoria peso-pesados. 



Pois ele me acertou um direto com a direita com meia força (segundo ele, para mim foi uma hecatombe), que cai, tonto com o nariz sangrando e ouvindo as gargalhadas ao fundo. 

Após quinze minutos foram me resgatar no meio do tablado, pois imaginavam que eu tivesse sofrido um AVC. E assim terminou a minha curta carreira (25 segundos) de boxeador. 

Mas continuei fã do Mike e também de quem escreve sobre ele, entendendo o homem, o lutador e o que ele representou para o esporte, como faz o Wilson Baldini Junior.

quarta-feira, junho 22, 2016

Doze anos sem Brizola, um grande brasileiro que faz falta e conheça a verdadeira história do "Sapo Barbudo"!



"O horizonte abra-se diante dos seus olhos, carregados de nuvens cinzentas", é a fala da locutora na última parte do documentário "Tempos de Luta", que narra a trajetória de Leonel de Moura Brizola, que neste 22 de junho completa 12 anos de sua morte e também descreve a atual situação política brasileira.

Brizola é um brasileiro que faz muita falta no cenário político. Acima de vitórias e derrotas, lutava por princípios, pela educação, pelos direitos dos trabalhadores. O único político eleito por eleição direta para o cargo de governador em dois Estados diferentes, o Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro por duas vezes.

Admirador de Getúlio Vargas, que foi padrinho do seu casamento com a irmã de João Goulart, não se apoiava em plataformas religiosas nos seus planos de governo e primava pelos direitos humanos nas incursões nas comunidades carentes.

Era inimigo da plutocracia e dos conservadores. Polêmico, nos debates se destacava pelo carisma e grande eloquência nos discursos. Quem não se lembra de Brizola taxar Paulo Maluf de "filhote da Ditadura", Moreira Franco de "Gato Angorá" e dizer que Lula era um "sapo barbudo".

Brizola e Lula

Aliás, a história com o ex-presidente Lula é enorme. Apoiou o então candidato do PT contra Fernando Collor de Mello, no segundo turno da eleição presidencial em 1990. No pleito seguinte foi escolhido como o vice-presidente na chapa PT e PDT, que era encabeçado pelo líder petista. 

A história do "Sapo Barbudo" é curiosa, pois a maioria cita a mesma para desprestigiar Lula, mas tem o sentido inverso. Em uma entrevista, questionado sobre o apoio ao Partido dos Trabalhadores, no segundo turno da eleição presidencial em 1990, o gaúcho citou uma frase do ex-senador Pinheiro Machado - "A Política é a arte de engolir sapos" -; sobre a mesma, Leonel fez o seguinte comentário: "Não seria fascinante fazer esta elite engolir o Lula, esse sapo barbudo? Vamos no menos pior, pelo menos".

Apreço pela justiça social vem de muitos anos, Brizola criou a campanha pela legalidade do mandato de João Goulart, que deveria assumir à presidência da república, após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Os setores conservadores não queriam que Jango assumisse o posto. Goulart foi eleito por voto direto, não à moda "Michel Temer", já que à época havia um pleito específico para o cargo de vice-presidente. 

Graças a campanha de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, o Golpe de Estado atrasou por três anos, quando em 1964 Jango foi deposto e muitos políticos tiveram seus direitos cassados. Brizola foi voto vencido à resistência pela luta armada.

Amigo de Fidel Castro, surgiu a história "El Ratón", que Brizola recebera de Cuba US$ 1 milhão para promover a revolução socialista, mas que nunca dera satisfação ao líder cubano sobre o gasto do dinheiro. Anos depois, Castro, entrevistado pelo Jornal do Brasil, disse que nunca houvera o "Ratón".

Depois de anos no exílio voltou ao Brasil e tentou recuperar a sigla do PTB, mas perdeu na justiça e fundou o PDT (Partido Democrático Brasileiro) e com o antropólogo Darcy Ribeiro fez uma transformação na educação fundamental do Rio de Janeiro com a criação dos CIESPs (Centros Integrados de Ensino Público).

Ciro Gomes, Carlos Lupi e Leonel Brizola

Agora filiado ao PDT, Ciro Gomes, tem algumas virtudes do "caudilho": carismático,progressista,  polêmico e sem nenhuma ação julgada por improbidade administrativa. Já antecipou que será candidato `à presidência da república em 2018,  pelo partido fundado por Brizola. Será que a história vai se repetir?